Publicações - Estratégias reprodutivas na pecuária: avaliação técnica da monta natural e protocolos com IATF

Publicado em 03/07/25

Estratégias reprodutivas na pecuária: avaliação técnica da monta natural e protocolos com IATF

Estratégias reprodutivas na pecuária: avaliação técnica da monta natural e protocolos com IATF


      A eficiência reprodutiva é um fator decisivo para o sucesso econômico da pecuária de corte e leite. Produzir um bezerro por vaca ao ano é uma das metas centrais de sistemas sustentáveis e lucrativos. Para atingir esse objetivo, a escolha da estratégia reprodutiva deve ser cuidadosamente planejada, considerando aspectos técnicos, genéticos, logísticos e econômicos.
     Entre as principais práticas utilizadas no Brasil estão a monta natural e a inseminação artificial com tempo fixo (IATF), que pode ser associada ou não ao repasse com touros. Cada alternativa tem impactos distintos sobre o desempenho zootécnico do rebanho, e a adoção de uma ou outra depende do perfil da propriedade e dos objetivos do sistema produtivo.

1- Monta natural
     A monta natural envolve o acasalamento direto entre touros e vacas, sem o uso de biotecnologias reprodutivas. É a prática mais tradicional e ainda bastante comum, principalmente em propriedades com menor grau de tecnificação.

- Aspectos técnicos:

  • Recomendação de 1 touro para cada 25 a 35 vacas;
  • Taxa média de prenhez entre 60% a 65% ao final da estação de monta;
  • Duração ideal da estação: 60 a 90 dias.

- Vantagens:

  • Baixo investimento inicial;
  • Exige pouca infraestrutura e menor capacitação técnica;
  • Menor intervenção humana no manejo reprodutivo.

- Desvantagens:

  • Menor controle sobre o melhoramento genético;
  • Dependência da fertilidade e libido dos touros;
  • Riscos sanitários associados a doenças venéreas (ex: tricomoníase, campilobacteriose);
  • Baixa padronização dos bezerros.

     É uma estratégia ainda válida em sistemas extensivos, mas limitada em termos de ganhos genéticos e controle zootécnico.

2- IATF + repasse com touro
     Neste modelo, todas as vacas recebem um protocolo hormonal para sincronização do cio e são inseminadas em tempo fixo. As vacas não prenhes são repassadas com touros por mais 30 a 60 dias.

- Aspectos técnicos:

  • Primeira taxa de prenhez: 40 a 55%;
  • Prenhez final (com repasse): até 85%;
  • A estação de monta costuma durar cerca de 90 dias.

- Vantagens:

  • Melhora genética com uso de sêmen de touros superiores;
  • Concentração de partos, facilitando desmama e manejo sanitário;
  • Uniformização de lotes de bezerros;
  • Redução do intervalo entre partos com gestão adequada.

- Desvantagens:

  • Custo com protocolos hormonais e sêmen;
  • Exige cronograma bem planejado e mão de obra treinada;
  • Resultados dependem do escore corporal e da sanidade reprodutiva das vacas.

     É uma das estratégias mais eficientes em termos de custo-benefício, bastante difundida entre produtores que buscam melhorar indicadores zootécnicos sem abandonar o uso de touros.

3- Duas IATFs + repasse com touro
     Essa abordagem envolve a aplicação de dois protocolos de IATF sequenciais. Após a segunda inseminação, as vacas não prenhes são expostas à monta natural.

- Aspectos técnicos:

  • Prenhez acumulada nas IATFs: 65 a 75%;
  • Prenhez final (com repasse): 85 a 90%;
  • O número de vacas que chegam ao repasse é reduzido.

- Vantagens:

  • Elevado percentual de bezerros de IA;
  • Maior concentração de partos nos dois primeiros terços da estação;
  • Redução da pressão sobre o número de touros em campo.

- Desvantagens:

  • Aumento de custos com dois protocolos;
  • Maior exigência de organização e manejo;
  • Requer planejamento nutricional para garantir resposta adequada das matrizes.

     Essa estratégia é ideal para propriedades tecnificadas, que visam acelerar o progresso genético e melhorar o desempenho reprodutivo.

4- Três IATFs consecutivas (sem repasse)

     Consiste na realização de três IATFs sequenciais, com intervalo entre 18 e 24 dias, cobrindo todo o rebanho apenas com inseminação artificial. Não há repasse com touros.

- Aspectos técnicos:

  • Taxa de prenhez acumulada: 80 a 90%, com manejo adequado;
  • Todos os bezerros resultam de sêmen de IA.

- Vantagens:

  • Controle total do melhoramento genético;
  • Padronização máxima dos lotes de produção;
  • Redução de riscos sanitários relacionados ao uso de touros;
  • Possibilidade de uso estratégico de sêmen sexado ou de touros com características específicas (DEP, genômica).

- Desvantagens:

  • Alto custo por matriz (três protocolos, sêmen e mão de obra);
  • Maior necessidade de estrutura (curral, contenção, manejo);
  • Nutrição precisa estar bem ajustada para garantir retorno.

     É a estratégia mais avançada do ponto de vista zootécnico e genético, sendo indicada para rebanhos elite, programas de seleção, centrais de doadoras e propriedades de ciclo intensivo.

QUADRO COMPARATIVO DAS ESTRATÉGIAS REPRODUTIVAS

Estratégia

 Taxa de Prenhez Final Custo por Matriz Nível de Tecnificação Vantagens principais Indicação ideal
Monta natural    60 - 65% Baixo Baixo

Baixo investimento, simplicidade operacional

Sistemas extensivos, menor infraestrutura
IATF + repasse com touro Até 85%  Médio Médio Baixo investimento, simplicidade Propriedades em transição tecnológica
Duas IATFs + repasse 85 - 90% Alto Alto Alta taxa de bezerros IA, menor uso de IATF Fazendas tecnificadas com boa infraestrutura
Três IATFs (sem repasse) 80 - 90% Muito alto Muito alto 100% bezerros de IA, controle genético total, sem touros Rebanhos elite, programas de seleção


     Na Precisão Agro, entendemos que a eficiência reprodutiva é um dos pilares centrais para o sucesso econômico da pecuária moderna. Por isso, atuamos de forma consultiva e personalizada, ajudando o produtor a escolher e implementar a estratégia reprodutiva mais compatível com sua realidade - seja a monta natural, a IATF com repasse ou protocolos sequenciais de inseminação artificial.
    Nosso trabalho começa com o diagnóstico técnico da fazenda, considerando estrutura, genética do rebanho, escore corporal, nutrição, sanidade, capacidade operacional e metas econômicas. A partir disso, elaboramos um cronograma reprodutivo sob medida, com:

  • Seleção de touros ou sêmen compatível com os objetivos produtivos;
  • Planejamento e acompanhamento dos protocolos hormonais;
  • Capacitação da equipe da fazenda para aplicação dos manejos com segurança;
  • Monitoramento das taxas de prenhez e partos, visando maximizar os índices zootécnicos.

     Com planejamento técnico e acompanhamento de perto, proporcionamos ao produtor mais controle sobre o desempenho reprodutivo, incremento do ganho genético e aumento da produtividade e da rentabilidade da propriedade.


Considerações finais
     A escolha da estratégia reprodutiva deve ser feita com base em objetivos produtivos, estrutura disponível, perfil do rebanho, capacidade de investimento e nível de tecnificação da propriedade. Estratégias baseadas em IATF vêm ganhando espaço pela sua eficiência em melhorar o padrão genético e reprodutivo do rebanho, mesmo exigindo maior contole técnico e investimentos.
    Por outro lado, a monta natural ainda cumpre seu papel em sistemas mais simples, especialmente quando acompanhada de touros férteis e bem manejados. Em todos os casos, o sucesso das estratégias depende da integração entre manejo reprodutivo, nutrição, sanidade e controle zootécnico.

 

Por Lucas Benjamim

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